Introdução
No rastro das grandes navegações do século XV e XVI, emergiu uma figura histórica complexa e controversa: o conquistador. Eram homens de ambição desmedida, movidos por uma mistura de cobiça por ouro, zelo religioso e uma busca incessante por glória pessoal. Em poucas décadas, um punhado de capitães e soldados, com uma vantagem tecnológica esmagadora, subjugou impérios vastos e populosos nas Américas, em um dos encontros de civilizações mais dramáticos e assimétricos da história.
No entanto, a era dos conquistadores não se limitou ao Novo Mundo. Ao longo da história, líderes militares como Alexandre o Grande, Júlio César e Genghis Khan também personificaram esse espírito implacável de conquista, redesenhando mapas e alterando o curso da história com suas campanhas audaciosas. Este artigo explorará a trajetória desses líderes, desde os titãs da antiguidade até o choque de mundos nas Américas. Esses fatos dos conquistadores serão listados aqui em detalhes.
A Era dos Grandes Conquistadores: Táticas e Legados
Antes da chegada dos europeus às Américas, o mundo já havia testemunhado a ascensão e queda de impérios sob o comando de líderes militares cuja genialidade tática e ambição eram lendárias.
Esses conquistadores da antiguidade e da Idade Média não apenas venceram batalhas; eles criaram novos paradigmas de guerra, fundiram culturas e deixaram um legado que seria estudado por estrategistas militares por séculos, influenciando até mesmo as táticas dos conquistadores espanhóis que viriam depois.
Alexandre o Grande e a Conquista da Pérsia (Batalha de Gaugamela)
Em 331 a.C., na planície de Gaugamela, Alexandre da Macedônia, com um exército de cerca de 47.000 homens, enfrentou o vasto exército persa de Dario III. Em uma das demonstrações mais brilhantes de estratégia militar da história, Alexandre usou suas unidades de forma coordenada para criar uma brecha na linha inimiga e liderou pessoalmente uma carga de cavalaria decisiva.

A vitória não apenas destruiu o poderio persa, mas abriu as portas para que a cultura grega se espalhasse pelo Oriente, dando início à Era Helenística. Com certeza absoluto um dos maiores conquistadores da sua era.
A Genialidade de Júlio César no Cerco da Gália (Batalha de Alesia)
A Batalha de Alesia em 52 a.C. é a obra-prima de Júlio César. Ele cercou a fortaleza gaulesa de Vercingetórix com uma linha dupla de fortificações: uma para impedir a fuga dos gauleses e outra para se proteger de um exército de resgate massivamente superior.

A complexidade da engenharia militar romana e a disciplina das legiões sob o comando de César garantiram uma vitória contra todas as probabilidades, selando a conquista romana da Gália e consolidando a reputação de César como um dos maiores conquistadores de todos os tempos.
Genghis Khan e a Horda Mongol: A Conquista da Eurásia
No início do século XIII, Genghis Khan unificou as tribos nômades da Mongólia e forjou uma das máquinas de guerra mais eficientes e temidas da história. A força dos conquistadores mongóis residia em sua cavalaria de arqueiros, sua mobilidade incomparável, sua disciplina brutal e seu uso de táticas de terror psicológico.
Sob o comando de Khan e seus sucessores, os exércitos mongóis criaram o maior império contíguo da história, varrendo da China à Europa Oriental e alterando permanentemente as rotas comerciais e o equilíbrio de poder na Eurásia.
Napoleão Bonaparte e a Conquista da Europa (Batalha de Austerlitz)
Considerada a obra-prima de Napoleão, a Batalha de Austerlitz (1805) viu o exército francês derrotar as forças superiores da coalizão russo-austríaca. Napoleão usou uma estratégia brilhante de engano, fingindo uma fraqueza em seu flanco direito para atrair o ataque inimigo, enquanto concentrava suas forças para um ataque devastador no centro.
A vitória foi tão decisiva que desmantelou a Terceira Coalizão contra a França e solidificou o domínio de Napoleão sobre o continente europeu por quase uma década, provando seu lugar entre os maiores conquistadores da história.
O Choque de Mundos: Os Conquistadores Espanhóis nas Américas
Após as viagens de Cristóvão Colombo, a Coroa Espanhola abriu as portas do Novo Mundo para uma geração de homens ambiciosos, endurecidos por séculos de Reconquista contra os mouros na Península Ibérica. Esses homens, os conquistadores, não eram soldados de um exército regular, mas sim aventureiros e mercenários que financiavam suas próprias expedições em busca de fortuna.

O que se seguiu foi um dos encontros mais assimétricos e brutais da história. Em um espaço de tempo incrivelmente curto, pequenos grupos de conquistadores espanhóis conseguiram derrubar dois dos maiores e mais complexos impérios das Américas: o Asteca e o Inca. Esse sucesso improvável não pode ser explicado apenas pela coragem ou crueldade, mas por uma combinação de fatores que incluíam motivações fervorosas, uma vantagem tecnológica esmagadora e um aliado biológico invisível e devastador.
“Ouro, Glória e Deus”: As Forças que Impulsionavam a Conquista
A mentalidade dos conquistadores era moldada por três forças principais, frequentemente resumidas como “Ouro, Glória e Deus”. O Ouro era a motivação econômica mais óbvia; a promessa de riquezas incalculáveis, de terras e de mão de obra para explorar era o principal atrativo para homens que arriscavam tudo em expedições perigosas.
A Glória representava a ambição social; em uma sociedade rígida como a espanhola, a conquista no Novo Mundo era uma oportunidade para homens da pequena nobreza (hidalgos) ou de origem humilde ganharem fama, títulos e ascenderem socialmente. Finalmente, Deus era a justificativa ideológica e religiosa. Imbuídos do espírito da Cruzada da Reconquista, muitos conquistadores viam a si mesmos como missionários, com o dever sagrado de converter os povos pagãos ao cristianismo, muitas vezes através da força.
A Vantagem Tecnológica: Armas de Fogo, Aço e Cavalos
A disparidade tecnológica entre os espanhóis e os impérios americanos era imensa. Os conquistadores possuíam armas de aço, como espadas, lanças e armaduras, que eram imensamente superiores às armas de madeira e obsidiana usadas por astecas e incas. As armas de fogo, como arcabuzes e pequenos canhões, embora lentas e imprecisas, tinham um efeito psicológico devastador, com seu barulho ensurdecedor, fumaça e poder de destruição nunca antes visto.
No entanto, a arma mais impactante foi o cavalo. Inexistentes nas Américas, os cavalos davam à cavalaria espanhola uma vantagem aterrorizante em termos de velocidade, mobilidade e impacto de carga, permitindo que um pequeno número de cavaleiros pudesse romper as linhas de milhares de guerreiros a pé. O que se mostrou essencial para alguns conquistadores da história.
O Impacto das Doenças: O Aliado Invisível e Mortal
A arma mais letal dos conquistadores não foi o aço nem a pólvora, mas os micróbios que eles trouxeram consigo. Isoladas do Velho Mundo por milênios, as populações nativas das Américas não tinham imunidade a doenças comuns na Europa, como a varíola, o sarampo e a gripe. O contágio se espalhou de forma avassaladora, muitas vezes antes mesmo da chegada dos próprios espanhóis a uma região.
Epidemias catastróficas dizimaram a população indígena, matando milhões de pessoas, incluindo líderes e guerreiros, e desorganizando completamente as estruturas sociais e políticas dos impérios Asteca e Inca. Essa catástrofe demográfica enfraqueceu a capacidade de resistência e gerou um sentimento de desespero e abandono divino, facilitando enormemente a conquista.
Hernán Cortés e a Queda do Império Asteca
Em 1519, Hernán Cortés, um fidalgo espanhol de poucas posses mas de imensa ambição, liderou uma expedição não autorizada de Cuba para o continente americano. Com apenas cerca de 600 homens, 16 cavalos e alguns canhões, ele se preparou para enfrentar o poderoso Império Asteca, uma civilização sofisticada que governava milhões de pessoas a partir de sua magnífica capital, Tenochtitlán.

A conquista do México por Cortés é um estudo de caso sobre a audácia, a crueldade e a genialidade política de um dos mais famosos conquistadores da história, que soube explorar as divisões internas de seus inimigos e usar todos os recursos disponíveis – militares, diplomáticos e até mitológicos – para alcançar um objetivo que parecia impossível.
A Chegada ao México e o Contato com Montezuma II
Ao desembarcar na costa do México, Cortés fundou a cidade de Veracruz, um ato que o colocava em rebelião direta contra o governador de Cuba. Para garantir que seus homens não tivessem outra opção a não ser marchar para o interior, ele tomou a decisão dramática de afundar seus próprios navios. As notícias da chegada dos homens barbudos de pele clara chegaram rapidamente ao imperador asteca, Montezuma II.
Havia uma antiga profecia asteca sobre o retorno do deus Quetzalcóatl, uma divindade de pele clara que teria partido pelo mar e prometido voltar. Essa coincidência gerou uma paralisante indecisão em Montezuma. Em vez de atacar os invasores imediatamente, ele os recebeu com presentes de ouro e os convidou para a capital, Tenochtitlán, uma metrópole espetacular construída em uma ilha no meio do Lago Texcoco.
Alianças Estratégicas com Povos Inimigos dos Astecas
Cortés rapidamente percebeu que o Império Asteca não era um bloco unificado, mas uma aliança frágil mantida pela força e pela cobrança de tributos (incluindo sacrifícios humanos) de povos subjugados. Muitos desses povos odiavam o domínio asteca. A jogada mais genial de Cortés foi explorar esse ressentimento. Após um confronto inicial, ele forjou uma aliança crucial com os Tlaxcaltecas, um povo guerreiro que era inimigo mortal dos astecas.
Essa aliança transformou a expedição de Cortés: seus poucos espanhóis foram reforçados por milhares de guerreiros tlaxcaltecas experientes, que forneceram a força numérica e o conhecimento do terreno essenciais para a campanha. A conquista do México não foi apenas uma vitória espanhola, mas uma rebelião em larga escala dos povos subjugados, liderada pelos conquistadores.
A “Noche Triste” e o Cerco Final de Tenochtitlán
Uma vez dentro de Tenochtitlán, os espanhóis, temendo uma armadilha, tomaram Montezuma como refém dentro de seu próprio palácio. A situação explodiu quando um dos capitães de Cortés massacrou a nobreza asteca durante um festival religioso. A cidade se revoltou furiosamente contra os invasores. Montezuma foi morto e os espanhóis foram forçados a uma fuga desesperada durante a noite de 30 de junho de 1520, que ficou conhecida como a “Noche Triste”.
Centenas de conquistadores morreram afogados no lago, sobrecarregados pelo ouro que tentavam carregar. Contudo, Cortés não desistiu. Ele recuou para Tlaxcala, reorganizou suas forças e, em um feito de engenharia notável, construiu uma frota de pequenos navios de guerra para sitiar a capital asteca por água. O cerco final de Tenochtitlán, auxiliado por uma devastadora epidemia de varíola que dizimou a população da cidade, foi brutal e durou meses, resultando na destruição completa da cidade e na queda do Império Asteca em 1521.
Os Fatores da Conquista: Estratégia, Tecnologia e Profecias
A queda do Império Asteca para um número tão pequeno de espanhóis foi o resultado de uma combinação de fatores. A liderança audaciosa e a habilidade diplomática de Cortés foram inegavelmente cruciais. A superioridade tecnológica das armas de aço e da cavalaria espanhola deu-lhes uma vantagem decisiva em batalhas abertas.
As alianças com os povos indígenas forneceram a massa de soldados necessária para a guerra. As crenças e profecias astecas podem ter causado uma hesitação fatal em sua liderança inicial. Mas, acima de tudo, o fator mais devastador foi a varíola, o inimigo invisível que matou mais astecas do que qualquer espada espanhola, quebrando o moral e a capacidade de resistência do império.
Francisco Pizarro e a Conquista do Império Inca
Uma década após a queda do Império Asteca, outro grupo de conquistadores espanhóis, liderado por um veterano endurecido e analfabeto chamado Francisco Pizarro, voltou sua atenção para os rumores de um império fabulosamente rico localizado ao sul, nas montanhas dos Andes. O Império Inca, conhecido como Tawantinsuyu, era um estado vasto e altamente organizado, que se estendia por milhares de quilômetros ao longo da cordilheira.

A conquista do Inca por Pizarro, realizada com uma força ainda menor que a de Cortés, é um dos episódios mais impressionantes e trágicos do choque de mundos, demonstrando como a determinação implacável de um punhado de homens, combinada com fatores internos do próprio império, pôde levar ao colapso de uma civilização inteira.
A Expedição ao Peru: Um Império Enfraquecido pela Guerra Civil
As primeiras expedições de Pizarro foram fracassos, mas ele persistiu. Quando finalmente chegou ao território inca em 1532 com cerca de 170 homens, ele encontrou um império em uma situação de extrema vulnerabilidade.
O imperador Huayna Capac havia morrido recentemente de uma epidemia de varíola (a doença europeia que viajava mais rápido que os próprios conquistadores), e seus dois filhos, Huáscar e Atahualpa, haviam acabado de travar uma guerra civil sangrenta pelo trono. Atahualpa saiu vitorioso, mas o conflito deixou o império dividido e enfraquecido, com muitas facções ainda leais a seu irmão executado.
A Captura de Atahualpa em Cajamarca: Um Golpe Audacioso
Pizarro e seus homens marcharam para o interior e convidaram o vitorioso imperador Atahualpa, que estava com seu exército de dezenas de milhares de guerreiros, para um encontro na praça da cidade de Cajamarca.
Em um ato de audácia inacreditável, Pizarro preparou uma emboscada. Quando Atahualpa chegou à praça com uma comitiva em grande parte desarmada, os espanhóis surgiram de seus esconderijos, disparando arcabuzes e canhões e atacando com a cavalaria. O pânico foi total. Em meio ao massacre, Pizarro capturou pessoalmente o imperador Atahualpa, o Sapa Inca, que era considerado um deus vivo por seu povo. A captura do líder divino paralisou a capacidade de reação do vasto exército inca. Fazendo dele um dos maiores conquistadores da história.
O Resgate de Ouro e a Execução do Imperador Inca
Do cativeiro, Atahualpa percebeu a sede dos espanhóis por metais preciosos. Ele fez uma oferta extraordinária por sua liberdade: prometeu encher um grande aposento uma vez com ouro e duas vezes com prata. O resgate, hoje conhecido como o “Resgate de Atahualpa”, foi cumprido. Durante meses, ouro e prata de todo o império foram enviados para Cajamarca, resultando na coleta de toneladas de artefatos preciosos, que foram prontamente derretidos em lingotes pelos espanhóis.
No entanto, mesmo após o pagamento, os conquistadores, temendo que Atahualpa pudesse organizar uma rebelião se fosse solto, o acusaram falsamente de traição e o executaram em 1533.
A Queda de Cusco e a Consolidação do Domínio Espanhol
A morte do imperador mergulhou o já dividido Império Inca no caos. Pizarro, explorando as divisões, nomeou um novo imperador fantoche e marchou para a capital, Cusco, que foi saqueada. Embora a resistência inca tenha continuado por décadas, com líderes como Manco Inca e Túpac Amaru, o coração do império havia sido conquistado.
O sucesso dos conquistadores no Peru, assim como no México, foi resultado de uma combinação de sorte (a guerra civil e a epidemia), audácia militar, superioridade tecnológica e a habilidade de explorar as fraquezas e divisões internas de um império poderoso.
Outros Conquistadores e a Exploração do Novo Mundo
A queda dos impérios Asteca e Inca foi apenas o começo da expansão espanhola nas Américas. Inspirados pelas riquezas inimagináveis encontradas no México e no Peru, uma nova onda de conquistadores se lançou em todas as direções, buscando seus próprios reinos para conquistar e tesouros para encontrar.

Essas expedições, muitas vezes brutais e repletas de dificuldades, foram responsáveis por mapear vastas áreas do continente, desde os desertos do sudoeste americano até as selvas da Amazônia e as frias terras do sul do Chile. Muitas dessas jornadas foram impulsionadas não por impérios reais, mas pela perseguição a mitos e lendas de cidades de ouro, como o famoso El Dorado.
Vasco Núñez de Balboa e a Descoberta do Oceano Pacífico
Um dos primeiros e mais notáveis desses exploradores foi Vasco Núñez de Balboa. Buscando ouro e estabelecendo a primeira colônia permanente no continente, no Panamá, Balboa ouviu relatos indígenas sobre um “outro mar” do outro lado das montanhas. Em 1513, ele liderou uma expedição extenuante através da selva densa e do terreno montanhoso do istmo do Panamá.
Após semanas de marcha, ele subiu um pico e se tornou o primeiro europeu a avistar o Oceano Pacífico a partir do Novo Mundo. Ele tomou posse do “Mar do Sul” e de todas as suas terras em nome da Coroa Espanhola, abrindo o caminho para futuras explorações da costa oeste das Américas, incluindo a expedição de Pizarro ao Peru.
Pedro de Valdivia e a Difícil Conquista do Chile
A conquista do Chile provou ser uma das mais difíceis e longas de toda a era dos conquistadores. Liderada por Pedro de Valdivia, um veterano das campanhas de Pizarro, a expedição enfrentou a resistência feroz do povo Mapuche. Diferente dos impérios centralizados dos astecas e incas, os mapuches eram uma sociedade descentralizada e altamente guerreira, que rapidamente se adaptou às táticas e às armas espanholas.
Valdivia fundou a cidade de Santiago em 1541, mas a Guerra de Arauco, como o conflito ficou conhecido, se estenderia por quase 300 anos, com os mapuches mantendo sua independência em grande parte do seu território, tornando-se um símbolo de resistência indígena nas Américas.
A Busca por El Dorado: Lendas e Expedições Fracassadas
O mito de El Dorado, uma cidade lendária feita inteiramente de ouro, foi o grande motor de dezenas de expedições suicidas para as regiões inexploradas da América do Sul. A lenda consumiu a vida e a fortuna de incontáveis conquistadores. Uma das mais famosas foi a de Francisco de Orellana. Ele se juntou a uma grande expedição que partiu de Quito em busca de El Dorado, mas acabou se separando do grupo principal.
Em vez de voltar, Orellana e um pequeno grupo de homens navegaram por todo o curso do rio mais longo do mundo, enfrentando fome, doenças e ataques de tribos indígenas. Embora não tenham encontrado ouro, eles se tornaram os primeiros europeus a navegar por todo o Rio Amazonas, desde os Andes até o Oceano Atlântico, em uma das maiores façanhas de exploração da história.
As Consequências da Conquista
A chegada dos conquistadores e a subsequente queda dos grandes impérios americanos representaram muito mais do que uma simples mudança de governo. Foi um evento cataclísmico que desestruturou sociedades inteiras, remodelou paisagens, economias e culturas, e deu início a um dos processos de transformação mais rápidos e, muitas vezes, mais violentos da história humana.
As consequências da conquista foram profundas e duradouras, sentidas em ambos os lados do Atlântico, criando as bases para a formação da América Latina moderna e alterando o curso da economia global.
O Colapso Demográfico das Populações Indígenas
A consequência mais trágica e imediata da conquista foi um colapso demográfico sem precedentes. As doenças trazidas pelos europeus, como a varíola e o sarampo, contra as quais os povos nativos não tinham imunidade, varreram o continente e mataram um percentual estimado entre 50% a 90% da população indígena em poucas décadas.
Somam-se a isso as mortes causadas pela própria guerra, pela desestruturação dos sistemas de produção de alimentos (levando à fome) e pela exploração brutal da mão de obra.
A Implantação do Sistema Colonial Espanhol (Encomienda e Mita)
Com a queda dos impérios, os conquistadores e a Coroa Espanhola impuseram um novo sistema de exploração. A encomienda foi uma instituição chave, na qual um espanhol (o encomendero) recebia o direito de cobrar tributos e exigir trabalho de uma comunidade indígena. Em troca, ele deveria “proteger” e cristianizar os nativos, mas, na prática, o sistema frequentemente se convertia em uma forma de trabalho forçado.
Os espanhóis também adaptaram sistemas de trabalho pré-existentes, como a mita inca (um sistema de trabalho rotativo obrigatório para o Estado), para forçar os indígenas a trabalhar nas minas de prata, como as de Potosí, em condições desumanas.
A Fusão e o Choque Cultural: Sincretismo Religioso e Novas Sociedades
A conquista impôs a cultura, a língua e a religião espanholas sobre os povos nativos. Templos foram destruídos e substituídos por igrejas católicas, e os antigos códices e registros foram queimados. No entanto, as culturas indígenas não foram simplesmente apagadas. O que ocorreu foi um complexo processo de resistência e sincretismo.
Divindades antigas foram associadas a santos católicos, e rituais pré-hispânicos foram mesclados a práticas cristãs, criando uma religiosidade popular única que existe até hoje. Desse encontro violento, nasceu também uma nova estrutura social, com a miscigenação entre europeus, indígenas e, posteriormente, africanos escravizados, dando origem às sociedades multirraciais que caracterizam a América Latina.
O Fluxo de Riquezas para a Europa e o Impacto na Economia Global
As toneladas de ouro e, principalmente, de prata extraídas das minas do México e do Peru foram enviadas para a Espanha, transformando a economia europeia. Esse fluxo maciço de metais preciosos financiou os exércitos espanhóis, mas também gerou uma inflação em toda a Europa, em um fenômeno conhecido como a “Revolução dos Preços”.
A conquista das Américas foi um passo decisivo para a consolidação de uma economia-mundo capitalista, com a Europa no centro, fornecendo produtos manufaturados, e as colônias na periferia, fornecendo matérias-primas e metais preciosos.
O Legado e a Memória dos Conquistadores
Poucas figuras na história evocam imagens tão contraditórias quanto os conquistadores. Por séculos, eles foram celebrados na Europa como heróis audaciosos e portadores da civilização e da fé cristã. Em contraste, para os descendentes das civilizações que eles subjugaram, suas memórias são de invasores brutais que trouxeram a morte, a destruição e o fim de seu mundo.

O legado dos conquistadores é, portanto, um campo de batalha da memória, um reflexo das complexas e muitas vezes dolorosas origens da América Latina. Analisar sua herança é navegar por um terreno de extremos, reconhecendo tanto a coragem e a resiliência sobre-humanas quanto a crueldade e a cobiça desmedidas que caracterizaram a conquista das Américas.
Heróis ou Vilões? O Debate Histórico sobre suas Figuras
A forma como vemos os conquistadores mudou drasticamente ao longo do tempo. Durante a era dos impérios coloniais, figuras como Cortés e Pizarro eram frequentemente retratadas como heróis épicos, comparáveis aos grandes generais da Antiguidade, cujas ações, embora violentas, eram justificadas como um passo necessário para o progresso e a expansão da civilização ocidental.
A historiografia moderna, no entanto, oferece uma visão muito mais crítica. Hoje, o debate se concentra em reconhecer a humanidade e a complexidade das civilizações pré-colombianas e em expor a brutalidade e as consequências devastadoras da conquista. A questão de “heróis ou vilões” é talvez simplista demais; os conquistadores eram homens de seu tempo, produtos de uma sociedade violenta e hierárquica, cujas ações foram motivadas por uma mistura complexa de fé, ambição e uma busca implacável por riqueza.
A “Lenda Negra” Espanhola e suas Interpretações
A imagem dos conquistadores também foi moldada por disputas políticas na própria Europa. A chamada “Lenda Negra” (Leyenda Negra) foi uma corrente de propaganda anti-espanhola, promovida principalmente por seus rivais protestantes, como a Inglaterra e a Holanda. Essa propaganda destacava (e muitas vezes exagerava) a crueldade e a intolerância dos espanhóis nas Américas para pintar a Espanha como uma nação barbaramente opressora.
Embora baseada em eventos reais de violência, a “Lenda Negra” era também uma ferramenta política para justificar a pirataria e as ambições coloniais de outras potências europeias. Em contrapartida, a Espanha promoveu sua própria “Lenda Branca”, que retratava a conquista como uma missão primariamente civilizadora e evangelizadora.
O Impacto Duradouro na Formação da América Latina
O legado mais concreto dos conquistadores está na própria formação da América Latina. A conquista deu início a um processo de miscigenação e sincretismo que criou uma identidade cultural única, uma fusão de elementos europeus, indígenas e africanos. A língua espanhola, a religião católica e as estruturas políticas e sociais implantadas pelos colonizadores tornaram-se dominantes.
Ao mesmo tempo, a memória da conquista deixou cicatrizes profundas, resultando em estruturas de desigualdade social e racial que persistem até hoje. O debate sobre a figura dos conquistadores e o significado de suas ações continua a ser uma parte central da busca da América Latina por sua própria identidade.
Conclusão
A figura do conquistador, seja nas legiões de César, nas hordas de Genghis Khan ou nas caravelas espanholas, é a personificação da ambição humana em sua forma mais extrema. Eles foram os agentes de mudanças cataclísmicas, homens que, em busca de ouro, glória ou poder, não hesitaram em derrubar impérios e redesenhar o mapa do mundo.
A conquista das Américas, em particular, representa um capítulo singular e brutal na história, um choque de mundos que resultou não apenas na subjugação de civilizações, mas no nascimento de uma nova realidade cultural e social. Algo feito por conquistadores audaciosos.
O legado dos conquistadores é, portanto, complexo e indelével; está gravado na arquitetura, na língua e nas veias abertas da América Latina, um testemunho permanente de uma era de ferro e fogo que, para o bem e para o mal, moldou o mundo moderno.